A doença de Lady Gaga

A Fibromialgia é caracterizada por um distúrbio na percepção de dor em diversos pontos do corpo, principalmente nos tendões e nas articulações.  Este distúrbio tem origem desconhecida, mas os estudos mostram que ele está relacionado com o funcionamento do sistema nervoso central e o  do mecanismo da supressão de dor. É como se o cérebro tivesse uma lente de aumento para a sensibilidade corporal.

O primeiro sintoma de fibromialgia é a sensação de dor persistente em uma determinada região, que, com o tempo, se expande para outras partes do corpo. Normalmente, a dor surge sem motivo, mas às vezes pode estimulada por traumas psicológicos ou físicos, como uma lesão provocada por um acidente de carro e infecções.

A dor também pode ser provocada por estímulos inimagináveis, como luz, som e cheiro. Quem vê de fora, se pergunta “como alguém pode sentir dor por causa de um cheiro?”.

Por ser crônica, esta dor se torna comum à rotina do paciente e ele acaba não demostrando quando a sente. Ao contrário das dores fisiológicas, provocadas por eventos esporádicos, como aquela baitidinha na quina da cama, que são imediatamente seguidas por um grito ou reclamação.

A habituação à dor pelo paciente é a principal causa de descrença por conta das pessoas à sua volta. Elas se questionam “Como ele pode estar sentindo tanta dor e viver normalmente?  Deve ser coisa da cabeça dele!”

Por isso o cancelamento do show da Lady Gaga em 2017, portadora da do distúrbio, causou tanta revolta.

Mas o assunto é serio e a dor é real. A sensação de cansaço é extrema e persistente, além da presença de sintomas como cefaleia, dores abdominais, e depressão. Cerca de 30% a 60% das mulheres com este distúrbio possuem depressão. A sua presença agrava a dor e vice-versa, uma alimentando a outra.

As alterações do sono também podem alterar o humor e, consequentemente, impactar as relações sociais, profissionais e o próprio autoestima. Outro aspecto importante é a perda de memória por conta desta privação de sono.  A concentração e a lembrança se tornam um desafio.

Para poder chamar a sua dor de Fibromialgia, é necessário que ela dure por volta de três meses e que dê as caras na maioria dos dias, acompanhada dos sintomas citados acima.

Nenhum exame de imagem pode trazer o diagnóstico certeiro, sendo ele 100% clínico. A ressonância magnética pode auxiliar na descoberta, mas de forma alguma é a chave da porta.

Faz parte do processo de diagnóstico um questionário que visa a avaliar o impacto do cansaço na rotina do paciente. Ele tem de classificar de 0 a 10 o nível de dificuldade que enfrentou para realizar determinadas tarefas. E pelo grau de exigência das tarefas, é possível ter ideia de quão intensa pode ser a falta de energia.

Qualquer faixa etária está exposta a doença, principalmente dos 30 aos 60 anos, mas o pico acontece aos 40 anos. Ainda, as mulheres são as mais afetadas que os homens, mas não há nenhuma explicação direta. Uma das possíveis razões é a oscilação hormonal e as ocasiões dolorosas pelas quais uma mulher passa ao decorrer na vida, como menstruação, TPM, menopausa e gravidez.

Existe tratamento?

Como a dor da fibromialgia não tem uma origem definida e é incurável,  os analgésicos e anti-inflamatórios não ajudam. Os medicamentos que surtem algum efeito são os da classe dos antidepressivos e neuromoduladores, mas eles somente são usados para aumentar a quantidade de neurotransmissores que diminuem a dor.

A atividade física é uma ótima aliada. Exercícios aeróbicos são capazes de melhorar a memória, concentração, circulação sanguínea e a energia do corpo. O paciente pode se aventurar, devagarzinho, na dança, na hidroginástica, no pilates e na hidroterapia.

De qualquer forma, todo tratamento deve contar com a psicoeducação, que tem como objetivo esclarecer ao paciente que o que ele sente não é loucura e nem preguiça, e sim uma doença.