A esquizofrenia é uma doença complexa com origens desconhecidas, mas esse mistério ficou mais claro agora que um novo estudo baseado na análise genética de quase 65.000 pessoas apontou para um gene específico e um processo biológico por trás dela.
A descoberta injeta nova esperança na jornada de mais de um século em busca de um tratamento – e quem sabe até mesmo a cura – dessa condição psiquiátrica debilitante.
Cerca de 1% da população mundial sofre de esquizofrenia, uma doença caracterizada por alucinações, instabilidade emocional e perda das funções cognitivas, começando na adolescência ou nos primeiros anos da vida adulta. Apesar das décadas de pesquisa, progredimos muito pouco em direção a um tratamento da esquizofrenia, em partes por ser tão difícil descobrir qual é a causa dela.
“Como a esquizofrenia foi inicialmente descrita há um século, sua biologia fundamental é uma caixa preta, em partes porque tem sido praticamente impossível modelar a doença em células ou animais”, disse Steven McCarroll, diretor de genética do Centro Stanley para Pesquisas Psiquiátricas. “O genoma humano está fornecendo uma nova forma potente para analisar essa doença.”
McCarroll sabe bem disso. Em 2014, ele participou de um projeto colaborativo internacional imenso que apontou mais de 100 regiões do genoma humano que carregam fatores de risco para a esquizofrenia. Agora, em um artigo publicado na Nature, McCarroll e seus colegas revelam um gene específico e um processo biológico que podem ser o fator de risco mais forte de todos.
Superficialmente, o culpado por trás da esquizofrenia parece um pouco estranho. É uma variante no complexo principal de histocompatibilidade (MHC, na sigla em inglês) – um conjunto de proteínas na superfície das nossas células – que se liga a moléculas de fora e as apresenta ao sistema imunológico.
Mas o estudo de McCarroll, que observou o DNA de 29.000 pessoas com esquizofrenia e mais 36.000 sem a doença, mostrou que essa variante em particular do MHC faz um gene conhecido como C4 se expressar em marcha acelerada.
E acontece que o C4 está presente nas sinapses dos neurônios – isto é, as conexões entre um neurônio e outro, que transferem compostos químicos e sinais elétricos no nosso cérebro. Em um nível celular, muito C4 pode reduzir o número de conexões sinápticas, um processo conhecido como “poda sináptica”. Numa escala humana, isso pode levar à esquizofrenia.
As descobertas representam um grande marco para a neurociência, mas McCarroll e seus colegas veem o estudo como um primeiro passo em direção a tratamentos novos e mais eficientes.
“Como as origens moleculares das doenças psiquiátricas são pouco entendidas, os esforços feitos por empresas farmacêuticas para perseguir novas terapias são poucos e distantes,” disse Bruce Cuthbert, diretor do Instituto Nacional de Saúde Mental, nos EUA. “Esse estudo pode mudar o jogo.”
Fonte: Gizmodo