É isso que acontece com o cérebro humano após uma viagem pelo espaço

Pensar na possibilidade de realizar um voo espacial e na sensação de estar sob efeito da gravidade zero pode ser algo extraordinário e emocionante. Por outro lado, essa experiência ainda é custosa e desconfortável para o corpo humano. Para provar isso, um estudo publicado no New England Journal of Medicine mostra como as missões espaciais de longa duração afetam o nosso cérebro.

Liderado pelo neurocientista Floris Wuyts, da Universidade de Antuérpia, na Bélgica, um grupo de pesquisadores colheu testes de imagens cerebrais realizados em dez cosmonautas russos (o mesmo que astronauta). Eles eram todos do sexo masculino e com idade média de 44 anos e foram submetidos a exames de ressonância magnética antes de embarcarem em missões à Estação Espacial Internacional, e nove dias após retornarem à Terra. Além disso, sete dos dez cosmonautas foram estudados por cerca de 200 dias depois de suas viagens, que duravam, em média, 189 dias, para que fossem avaliados de acordo com suas capacidades de recuperação ao longo do tempo.

Como resultado, os pesquisadores descobriram que os cosmonautas tiveram redução do volume da massa cinzenta do cérebro, tecido responsável pelo processamento das informações que recebemos e raciocinamos. A redução foi de cerca de 3,3% durante os voos espaciais. Embora uma pequena parte desse tecido tenha sido recuperada ao longo dos 200 dias, o volume da perda ainda era detectável.

Apesar de o foco do estudo ter sido a avaliação dos volumes do tecido cerebral, os cientistas também notaram que o volume líquido cefalorraquidiano, líquido que envolve todo o cérebro e medula espinhal e um dos principais fluidos do corpo humano, aumentou ao longo dos voos espaciais. Não se sabe, porém, até que ponto essa alteração influenciaria a capacidade cognitiva ou o comportamento dos cosmonautas.

Ao site Motherboard, da Vice, a pesquisadora de pós-doutorado na Universidade de Antuérpia Angelique Van Ombergen explicou que a principal hipótese para essas mudanças é a gravidade, que faz com que mais fluidos se desloquem para cima em direção ao tronco da cabeça, como consequência da ausência de âncora gravitacional.

Essa conclusão também pode estar relacionada às curiosas descobertas do estudo sobre a chamada sustância branca, um tecido cerebral revestido de um lipídio, a mielina, que aumenta a velocidade dos impulsos das fibras nervosas. De início, não era possível constatar que os voos espaciais tivessem alterado o volume desta substância, mas, ao examinarem os cosmonautas meses depois, concluíram que a matéria branca também havia diminuído. Essas alterações, segundo os pesquisadores, devem ser submetidas a novos experimentos de ressonância magnética para que as causas sejam confirmadas.

Os cientistas esperam recrutar novos astronautas e cosmonautas para estudos mais amplos sobre a influência de missões espaciais de longa duração na função cerebral. Embora os experimentos não tenham encontrado nenhum efeito negativo na capacidade cognitiva, Van Ombergen diz que a próxima pesquisa irá avaliar como essas mudanças no cérebro se traduzem no desempenho clínico dos astronautas, como anormalidades oculares e visuais após viagens espaciais de longa duração.

Segundo ela, questões como esta são necessárias para entender melhor o que está acontecendo e como os astronaustas podem ser melhor preparados para missões futuras.

Fonte: Época