ECP, um tratamento cirúrgico para a Doença de Parkinson

Em entrevista à Revista 200 Respostas sobre Alzheimer e Parkinson, o Dr. Marcelo Prudente respondeu uma série de perguntas sobre o tratamento cirúrgico para a Doença de Parkinson. Confira a seguir.

***

Quando é recomendada intervenção cirúrgica para pacientes com Parkinson?
As indicações mais comuns para Estimulação Cerebral Profunda – ECP (ou DBS, do inglês Deep Brain Stimulation ) são a Doença de Parkinson, Distonias e Tremor Essencial. Outras indicações para o DBS incluem doenças neuropsiquiátricas e neurodegenerativas.
A Estimulação Cerebral Profunda do Nucleo Subtalâmico (STN-DBS) é atualmente o tratamento cirúrgico mais comum para pacientes com Doença de Parkinson, sendo indicada quando o paciente passa a apresentar flutuações dos sintomas motores (rigidez e bradicinesia) e/ou discinesias (movimentos repetitivos involuntários) ou ainda o próprio tremor, quando esses sintomas não são mais controlados adequadamente com a terapia medicamentosa.
Embora o momento de indicação do procedimento geralmente seja em estágios avançados da doença, quando a medicação passa a ser menos eficaz contra os sintomas, existem estudos em andamento tentando avaliar a eficácia do DBS em fases mais precoces da Doença de Parkinson.

Quais são as principais cirurgias para o paciente com o Parkinson?
Desde que a ECP foi liberada pelo FDA (Federal Drug Administration, órgão do governo Norte Americano que avalia e regula a eficácia e segurança das medicações e terapias em uso no território dos EUA), em 2002, para tratamento da Doença de Parkinson avançada, esta cirurgia se tornou o padrão de tratamento cirúrgico para a doença. Até então, os tratamentos cirúrgicos para a Doença de Parkinson consistiam unicamente de procedimentos que visavam a lesão permanente de núcleos cerebrais integrantes dos circuitos neuronais envolvidos na doença.
Atualmente, sendo a ECP o procedimento cirúrgico padrão, o que varia é somente o núcleo alvo a ser estimulado. Os alvos mais comuns são o Núcleo Subtalâmico e o Globo Pálido, os quais são estruturas anatômicas profundas do sistema nervoso central envolvidas nos circuitos neuronais que regulam as atividades motoras, estando portanto envolvidas no mecanismo de geração dos sintomas da Doença de Parkinson.

O que é Terapia de DBS? O que é preciso para fazer e o que ela promete?
A Estimulação Cerebral Profunda – ECP (ou DBS, do inglês Deep Brain Stimulation ) consiste na implantação permanente por meio de cirurgia de eletrodos ligados a um gerador elétrico, semelhante a um marcapasso, nestes núcleos cerebrais profundos.. Este sistema gera estímulos elétricos sobre estas estruturas anatômicas profundas do sistema nervoso central, com o objetivo de alterar e modular o funcionamento dos neurônios presentes nesses núcleos, desse modo obtendo, por ação direta sobre os neurônios, um efeito clinicamente benéfico e reversível (ao contrário das técnicas antigas de lesão permanente desses núcleos) dos sintomas da Doença de Parkinson.

O que é estereotaxia? O que é preciso para fazer e o que ela promete?
Estereotaxia é um método de alta precisão utilizado para introdução e posicionamento dos eletrodos utilizados na ECP. Consiste no uso de ferramentas matemáticas e computacionais para transformar o crânio e o cérebro em um sistema de coordenadas tridimensionais. Durante o procedimento, um arco metálico contendo referências espaciais é instalado no crânio do paciente. Em seguida é realizada uma Tomografia ou uma Ressonância de crânio e essas imagens são instaladas em um programa que contém um mapa padrão do cérebro. O programa realiza a sobreposição da imagem com o mapa com precisão micrométrica e, desse modo, os alvos para instalação dos eletrodos da ECP viram coordenadas matemáticas ultraprecisas.

Quais as restrições da cirurgia e quem não pode submeter-se a ela?
As contraindicações, todas elas relativas, são as seguintes:
– Idade acima de 75 anos
– Doenças graves associadas passíveis de redução significativa da expectativa de vida do paciente
– Imunossupressão (por exemplo, pacientes transplantados ou com doenças que reduzam a capacidade imunológica do paciente)
– Manifestações psiquiátricas graves.

A cirurgia pode ser considerada uma cura, ou ainda é preciso o uso de medicamentos e outras terapias e cuidados?
A cirurgia não é a cura da Doença de Parkinson. Esta é uma doença degenerativa do tecido cerebral e portanto progressiva. A ECB é um método de controle da doença que têm seu papel quando os recursos medicamentosos passam a não mais contribuir significativamente para a melhora da qualidade de vida do paciente.