Em caso de pânico

Por Suzana Herculano-Houzel

Ansiedade é um estado mental e fisiológico que, em pequenas doses, é excelente. Acontece quando o cérebro antecipa a possibilidade de um problema no futuro próximo —exame, relatório, falta de dinheiro, consequências possíveis de uma ideia de jerico— e se prepara desde já para lidar com a situação, deixando corpo e mente em estado de alerta, pronto para a ação, o que aumenta suas chances de sucesso se e quando o problema de fato aparecer. Passado o alerta, corpo e mente relaxam.

Já a ansiedade crônica é um problema de saúde. Se o estado de tensão cerebral e corporal não vai embora, o corpo paga o preço, inclusive com o risco de ataques agudos de ansiedade ou pânico, duas maneiras de descrever o mesmo evento: um surto de atividade cerebral com função “me-tira-daqui”, altamente eficaz quando existe de fato ameaça iminente —mas que quando ocorre no conforto da casa, cama, carro ou ambiente de trabalho, só traz sentimentos de mal-estar, desespero e fim do mundo.

Há várias maneiras de disparar um ataque. O córtex pré-frontal se convence do problema que você anda temendo, a sirene do carro de bombeiros chega à sua amígdala, você tem o nariz obstruído ou está em lugar abafado, sonha um sonho pavoroso, ou seu hipocampo simplesmente não consegue mais segurar a onda do hipotálamo e joga a toalha. Em todo caso, o locus coeruleus, “lugar azul” do seu cérebro, cumpre sua função e dispara todos os alarmes.

Pronto, você está em DEFCON-5, alerta máximo, como nos filmes americanos. As sirenes soam, luzes piscam, patrulhas correm de lá para cá… só que não há problema algum para resolver. Os músculos, crispados como pedra, não têm o que fazer, então doem e, junto com a pressão alta, reduzem a oxigenação das extremidades do corpo: seus dedos e boca ficam dormentes. O cérebro para todos os trabalhos digestivos; a náusea é imediata.

A lista de expressões possíveis de um ataque de pânico é longa e individualizada, mas em comum está o sentimento de que você nunca se sentiu tão mal de uma vez só, então algo deve estar muito, muito errado. O que fazer?

Não se ensina a nadar quem está se afogando. Relaxar e respirar devagar e profundamente controla o locus coeruleus e ajuda a evitar um ataque, mas dificilmente reverte o que já começou. Ser abraçado longamente e apertado oferece algum alívio, mas no auge de um ataque, o melhor remédio é ter remédio para tomar. Alívio garantido em 15 minutos. Consulte seu médico.

Fonte: Folha de S. Paulo