Ao preparar seu prato, você pensa sobre como a comida vai impactar sua saúde cerebral? Além das calorias, segundo Bruna Pitaluga, é importante levar em consideração o cérebro antes de escolher os alimentos. Confira a entrevista abaixo:
Quais os erros mais comuns que os adultos cometem quando o assunto é a nutrição das crianças?
Com certeza, dar alimentos industrializados. Sucos de caixinha, refrigerante, leite achocolatado, bolo, todas essas coisas que alguns pais colocam nas lancheiras infantis são péssimas. Temos que melhorar isso.
Como a alimentação influencia o funcionamento do cérebro?
De diversas maneiras. O açúcar, por exemplo, é extremamente tóxico para o cérebro. Oscilações no nível de glicose no cérebro alteram a produção de substâncias químicas que têm a ver com concentração, foco e memória. É importante saber o que se deve e o que não se deve comer para nutrir o cérebro. Outro exemplo: você vai se alimentar de alface só porque alguém disse que faz bem? Não, você deve consumir porque ele tem compostos que fazem o cérebro funcionar melhor. Uma criança que vai à escola só com um leite achocolatado vai ter o cérebro prejudicado, assim como um adulto que toma café com leite, açúcar e pão de manhã. Os dois terão problemas de concentração.
Como deve ser essa alimentação nutritiva para o cérebro?
Os produtos menos indicados são sempre aqueles industrializados, com química e açúcar. Os que valem são os que vêm da natureza: folhas, vegetais, frutas, castanhas, óleo de coco, etc.
E a atividade física, como contribui para a saúde do cérebro?
O alimento dá os nutrientes corretos para o cérebro funcionar, é o combustível. Os bons alimentos mantêm a glicemia do cérebro estável. Já a atividade física treina o cérebro. Enquanto estamos nos exercitando, trabalhamos as duas metades do órgão e melhoramos a sua oxigenação, que é uma das coisas mais importantes a se fazer. Exercícios físicos dão capacidade cardiovascular, que leva oxigênio para o cérebro, o qual passa a funcionar melhor.
Existe alguma atividade física que seja mais indicada nesse sentido?
Todas as atividades são benéficas, contanto que você varie o máximo possível. Além dos treinos físicos, se você é uma pessoa que faz muita palavra-cruzada, faça também sudoku, caça-palavras, aprenda uma língua nova. Mude o caminho que você costuma fazer para ir para casa. Tudo o que é rotina é ruim para o cérebro: ele adora desafios. Quanto mais estímulos, mais áreas cerebrais serão ativadas e melhor será a reserva para o envelhecimento. Isso se chama neuroplasticidade. Quanto maior a neuroplasticidade, melhor a saúde cerebral. Significa dizer que há uma “reserva” para o cérebro. Por isso, a atividade física é tão importante: mantenha o cérebro ativado em todas as suas regiões.
Já existem indícios de que a atividade física previne Alzheimer e outras doenças, certo?
Sim, com certeza. Costumo dizer que há dois extremos: Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) e Alzheimer. No caso do Alzheimer, já se sabe que a doença vai acometer um em cada dois idosos até 2050. O Alzheimer, inclusive, já é chamado de Diabetes Tipo 3, porque pode ser causado também pela alimentação. Uma dieta hipercalórica e com calorias de péssima qualidade faz com que a glicose no cérebro oscile muito rapidamente. Isso inflama o cérebro. Temos que cuidar do cérebro da infância à vida adulta. Não podemos descuidar em nenhum momento.
Como encaixar uma rotina nutricional para o cérebro em meio a um dia a dia de trabalho estressante?
O problema é o acúmulo de coisas. Se você tem um emprego estressante, fuma, não faz atividade física e bebe, aí “lascou” tudo. É um conjunto de fatores. Se você tem esse mesmo emprego estressante, mas consegue encaixar cinco minutos de meditação quando chega em casa, troca a Netflix por um livro de vez em quando, a situação já muda um pouco. Dá para fazer uma caminhada de 30 minutos, se expondo ao sol, antes do trabalho? Só esse momento de estar ao ar livre já diminui a estafa. O estresse entra em um corpo que tem reservas ou em um que está gastando tudo o que tem e mais um pouco. A questão é a percepção do estresse, a forma com a qual trabalhamos essa percepção. É preciso começar de alguma forma, seja uma caminhada ou um aplicativo de meditação.
Fonte: Metrópoles